Comportamento de uma criança


Filho fora de casa: as várias facetas de uma mesma criança

Em casa ele faz birra, chora e bate o pé. Na casa do amigo, vira um “anjo”, sempre comportado e gentil. Come mal aqui, come bem ali. Às vezes, o inverso. Por que a criança é capaz de se transformar dependendo do contexto em que está?

Marina Vidigal
Bipolaridade ou chamando a atenção?
Com a expansão das informações sobre transtornos psiquiátricos e até uma certa banalização de muitos deles, há confusão entre “doença” e “educação”. O transtorno de bipolaridade é um deles e pode virar assunto quando a criança apresenta comportamentos diferentes, muitas vezes ao extremo. Segundo o psiquiatra Ênio Roberto de Andrade, diretor do Serviço de Psiquiatria da Infância e da Adolescência do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, USP, é natural haver essa diferença de comportamento no dia a dia com as crianças. “A criança se adapta ao meio e às pessoas com quem está. Em presença dos pais, é normal que se comporte de maneira diferente.” 

Mas, de fato, variações de comportamento constantes demais e exageradas podem ser um dos sintomas do chamado transtorno bipolar. Na infância, nem sempre é fácil diagnosticar esse quadro, que atinge cerca de 1% da população brasileira, e a dificuldade se dá justamente pelo mal acabar sendo encarado como birra, atitude de desrespeito ou coisa do gênero. 

O psiquiatra explica, no entanto, que o transtorno bipolar em uma criança costuma se manifestar por uma alternância constante (e sem motivo significativo) entre estados de euforia e de irritabilidade. “Diante de um determinado estímulo, a criança que tem tendência ao transtorno bipolar apresenta uma resposta muito maior do que a esperada. Um acontecimento corriqueiro qualquer pode desencadear uma reação muito grande – é o caso de a criança bater, espernear, fazer um movimento excessivo mesmo, por conta de uma mínima frustração, uma atitude de terceiros que não lhe tenha agradado”. 

Mas como diferenciar o excesso? Para os pais avaliarem se uma criança se exalta exageradamente, Andrade sugere que atentem para o comportamento de outras crianças da mesma faixa etária. “Uma dose de birra é normal. O importante é ver se a dose está alta demais ou se as manifestações de desagrado estão muito acentuadas”, afirma o psiquiatra, que aponta outros sintomas que podem estar associados ao transtorno bipolar, como: dificuldade para dormir, mau-humor ao despertar, oscilações frequentes de humor e interesse exagerado pelo sexo. 

Em relação ao diagnóstico, Andrade explica que se dá por meio de avaliações com psiquiatras, embora na infância não seja fácil chegar a essa constatação. “O diagnóstico precoce é raro. Embora possa se manifestar em crianças de 5, 4 ou até 3 anos de idade, ocorre mesmo quando os sintomas são realmente muito intensos”. O tratamento, enfim, consiste de terapia associada a medicamento. Os médicos não falam em cura do transtorno, mas em remissão, ou seja: os sintomas param de se manifestar e a criança passa a ter um comportamento normal.
Fonte: Revista Crescer

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